No seguimento do que apresentámos na última publicação sobre autoavaliação, é necessário também falarmos das possíveis "toxinas" da autoavaliação apresentadas por Alexandre Ventura (não me recordo qual a obra ou conferência, sei que apontei e tinha nas minhas notas mais antigas, apesar de, algumas delas, continuarem a parecer bastante atuais).
Assim, Alexandre Ventura falou-nos das "toxinas" da autoavaliação que se poderiam verificar num processo de autoavaliação de uma escola/agrupamento de escolas, identificando algumas, nomeadamente:
- Incoerência entre a prescrição legal e a prática da generalidade dos estabelecimentos de ensino;
- Inexistência de estruturas nacionais, regionais ou locais de apoio à realização de autoavaliação nas escolas;
- Inexistência de política articulada;
- Ausência de partilha de boas práticas;
- Reduzida notoriedade do que se vai fazendo devido à falta de divulgação;
- Perspetivas de curto prazo;
- Falta de impacto dos processos de autoavaliação ao nível da definição das políticas.
Pelos meus apontamentos da altura em que encontrei estas notas, faz-me crer que remontam a anos entre 2003 e 2006. No entanto, tal como referi, alguns aspetos ainda podem parecer reais, nomeadamente ao que se refere à divulgação do que as escolas ou organizações no âmbito da autoavaliação. Por isso, resolvi partilhá-las.
Assim, num qualquer processo de autoavaliação, devemos ter sempre presente que:
- A realidade é uma construção pessoal;
- A nossa capacidade de "ler" a realidade é sempre limitada e parcial;
- Uma escola é uma realidade muito complexa;
- Por muito esforçada que seja a nossa entrega a este processo, provavelmente iremos limitar-nos a vislumbrar parcelas da "realidade" ou "qualidade" da nossa escola.
E, estes são os aspetos com os quais devemos ter cuidado, os quais devemos evitar ou reduzir ao máximo. Como é que podemos fazer? Uma das formas será sempre através de evidências (algo que comprove a nossa avaliação e que nos apoio na decisão).
Qualquer que seja o modelo de autoavaliação escolhido pela escola, implica sempre uma equipa de autavaliação, ou seja, uma equipa responsável pela sua operacionalização. Neste sentido, apresentamos alguns cuidados a ter no que respeita aos avaliadores internos:
- Possível interesse encoberto num determinado resultado do processo de autoavaliação;
- Demasiado influenciados pela história e conhecimento das questões da organização;
- Por vezes, demasiado influenciados pelas perspetivas conhecidas da direção do estabelecimento de ensino;
- Pouca experiência no uso das técnicas de avaliação;
- Possível tendência para o favorecimento de programas desenvolvidas nos seus departamentos.
(Adaptado a partir de Feek
(1988), Love
(1991) e Clark
(1999))
No entanto, deveremos ter sempre presente que, os avaliadores internos são aqueles que têm:
- Familiaridade com a história, políticas, problemas e cultura da organização;
- Maior empenho na implementação das recomendações da avaliação pelo facto de serem os responsáveis pela sua monitorização;
- Tendência para uma maior sintonia com a perspetiva da direção do estabelecimento de ensino sobre as preocupações centrais.
(Adaptado a partir de Feek (1988), Love (1991) e Clark (1999))
Na minha opinião, ninguém melhor do que as pessoas da escola para operacionalizarem este processo. Por vezes, apenas precisam de alguém que as ajude a pensar, quer as ajude a questionar, a refletir... Repito isto inúmeras vezes, desde 2002, e vou repetir mais uma vez: as escolas têm imenso trabalho feito, têm inúmeros dados, informações, indicadores, por vezes, só precisam de um pequeno apoio para poderem organizar tudo o que têm.
Como Vítor Alaiz refere no Webinar sobre o papel do amigo crítico no apoio à autoavaliação como mecanismo de introdução de melhoria (disponível aqui):
" O “amigo crítico” é “alguém de confiança que coloca questões provocatórias, fornece dados para serem analisados através de diferentes olhares e critica, como amigo, o trabalho de outra pessoa. Um amigo crítico leva tempo para compreender totalmente o contexto do trabalho apresentado e os resultados que a pessoa ou o grupo procura atingir. O amigo é um apoiante do sucesso desse trabalho.” (MacBeath, 205:267)"
Mas, nunca deveremos esquecer que um processo de autoavaliação é um processo de todos, que só enriquece com a participação e envolvimento de todos!
Boa semana!
"